terça-feira, 14 de abril de 2015

Opinião - A Vida Quando Era Nossa

Ficha Técnica:
Autor: Marian Izaguirre
Título Original: La vida cuando era nuestra
Páginas: 344
Editor: Bertrand
ISBN: 9789722529297
Tradutor: Rita Custódio e Àlex Tarradellas

Sinopse:
A Vida Quando era Nossa é um tributo à literatura, mas é sobretudo uma história de amizade entre duas mulheres. Uma história que começa quando se abre um livro e que só termina quando todas as pontas da narrativa se unem.

«Tenho saudades do tempo em que a vida era nossa», diz Lola, a protagonista do romance. Sente falta da sua vida, tão cheia de esperança, feita de livros e conversas ao café, sestas ociosas e projetos de construir um país. A Espanha que, passo a passo, aprendia as regras da democracia.
Mas, em 1936, chega um dia em que a vida se transforma em sobrevivência e agora, passados quinze anos, a única coisa que sobra é uma pequena livraria, meio escondida num dos bairros de Madrid, onde Lola e Matías, o marido, vendem romances e clássicos esquecidos.
É nesse lugar modesto que, em 1951, Lola conhece Alice, uma mulher que encontrou nos livros uma razão para viver. Acompanhamos a amizade entre as duas, atrás do balcão a lerem o mesmo livro juntas, e isso leva-nos atrás no tempo, à Londres do início do século XX, para conhecermos uma menina que se perguntava quem seriam os seus pais…

Opinião:
Sei que ainda agora o ano começou, mas tenho a sensação que posso dizer que este livro há-de ser uma das melhores surpresas do ano. Confesso que quando li a sinopse não fiquei convencida por aí além, afinal esta é bastante simplista e não dá muitas pistas ao leitor sobre que tipo de livro é. Contudo a partir do momento que comecei a ler este livro fiquei completamente rendida.

Alice é uma senhora de 50 anos que nos é apresentada logo no início da narrativa, é através dela que vamos ficar a conhecer Matías e Lola. Alice num impulso decide começar a seguir Matías através dos bairros de Madrid, e é a partir daqui que vamos começar a seguir a história destes três personagens. A história é basicamente contada sobre quatro pontos de vista, o de Alice, o de Lola, o de Matias e o de Rosa.

Rosa é uma personagem de um livro, e é através da leitura desse livro por Alice e Lola que vamos ficando a conhecer aquilo que se passa na vida de cada um dos personagens. Através da leitura desse livro, que é uma biografia, Lola começa a pensar na sua vida, naquilo que é realmente importante para si, naquilo que quer para si e para o seu futuro. Afinal Lola vê-se reflectida naquela personagem cheia de força e vontade de viver. Matías não é directamente afectado pelo desenrolar da história do livro da Rapariga com os Cabelos como o Linho, no entanto, visto que Alice todas as semanas passa na loja, as alterações que inflige na própria loja e na personalidade de Lola acabam por também afectar a maneira como reage a determinadas situações.

Este livro pode ser considerado, basicamente, um romance histórico. Conta-nos como eram as coisas em Espanha em meados do séc. XX e como o ambiente de medo afectava toda a gente, ao mesmo tempo através do livro que Alice e Lola vão lendo ficamos a conhecer o ambiente de Londres e França no início do séc XX. A autora fez um bom trabalho na contextualização da história, foi quase como se estivesse lá, nos salões de Jazz, ou nas ruas de Madrid, sempre a olhar por cima do ombro com medo de ser abordada.

A ideia de um livro dentro de um livro não é propriamente nova, mas a autora conseguiu imprimir-lhe um cunho pessoal e fez com que a ideia resultasse bastante bem. Adorei ir conhecendo a história de Rosa, bem como a de Lola e Matías, e também a de Alice. Aos poucos vamos também percebendo de onde vem o livro que está a ser lido e quais as implicações reais que traz para o desenvolvimento da história.

As personagens são outro ponto forte do livro. Todas elas têm uma personalidade e um carisma que nos toca, que não nos deixa indiferentes. Desde aquelas com que lidamos directamente, como aquelas que vamos conhecendo através do livro, todas elas fazem mossa em nós ao longo do livro. As suas tristezas e as suas alegrias são as nossas. Mas a personagem que mais gostei foi sem dúvida Alice. Pelo seu espírito aberto, pela sua inteligência. Pela maneira como encara todos os problemas de frente sem hesitar. De como diz o que quer quando quer, mas sempre com elegância.

Não posso deixar de referir a escrita da autora. Adorei a maneira como ela escreve o livro, a construção do texto é melodiosa, as descrições e o encadeamento das ideias. Tudo contribui para que o leitor se sinta completamente embalado e concentrado na história que está a ler.

Só tenho um defeito a apontar, o final do livro. Chegou a uma altura em que achei que a narrativa se arrastava um pouco. Além disso o final é pouco claro e torna-se difícil de perceber o que realmente aconteceu e como acaba a história de Rosa. Melhor, percebemos o que aconteceu, só não como aconteceu porque a acção é algo confusa.

De qualquer modo, foi um livro que adorei ler e que aconselho vivamente.

(Livro lido em parceria com o Segredo dos Livros)

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