sábado, 7 de maio de 2016

Opinião - Forças do Mercado

Ficha Técnica:
Autor: Richard Morgan
Título Original: Market Forces
Páginas: 448
Editor: Saída de Emergência
ISBN: 9789896371920
Tradutor: Ana Mendes Lopes

Sinopse:
Uma visão negra, violenta e profundamente pessimista do futuro próximo. Quase que conseguimos ouvir Michael Moore a dizer “eu bem vos avisei”.

Richard Morgan convida-nos a mergulhar num futuro tão horrendo quão certo de estar já ao virar da esquina. Com o povo definitivamente afastado dos centros de decisão e as grandes corporações a controlar o mundo, a globalização é brutal e não há separação entre as salas de reunião e o sangue nas ruas. Chris Faulkner é um executivo em ascensão no negócio dos Investimentos em Conflitos, onde as decisões são tomadas com duelos até à morte. A acção dá-se nas auto-estradas (vazias pois a populaça não tem dinheiro para gasolina), e os executivos, ao volante de carros artilhados, tentam atirar os rivais para fora da estrada. No início, Faulkner prefere deixar os adversários no hospital e não na morgue, mas cedo terá de repensar a sua filosofia. Agora que chegou ao topo da cadeia alimentar, a ambição só é comparável à crueldade. E com o seu casamento a ruir, a consciência a pesar e os amigos a reduzirem-se, o nosso herói parece destinado a transformar-se num monstro ou num corpo mutilado.

Opinião:
Este era um daqueles livros que estava na estante à eternidades. Já anteriormente era para o ter começado, mas na altura um outro livro acabou por me despertar o interesse e este acabou por voltar para o seu lugar na estante. Contudo finalmente peguei nele e desta vez foi de vez.

Confesso que não foi um livro que li rapidamente. Este acontecimento poderá estar relacionado com um ou vários dos motivos que se seguem: O facto de quase só ler ao fim-de-semana porque durante a semana o pouco tempo livre que tenho é para ver séries; o facto de a escrita do autor e a própria história serem mais complexas e daí levar mais tempo a interiorizar cada nuance; ou o facto de que simplesmente não escolhi a altura mais indicada para ler o livro.

Apesar de a história principal ser narrada em torno de Faulkner a verdade é que os narradores são vários, cada um trazendo uma nova perspectiva, um novo ponto de vista para os acontecimentos e desenvolvimentos que estão a ocorrer com o personagem principal. Neste mundo futurista as decisões são efectuadas através de corridas, em que ganha a empresa que no final da corrida tenha pelo menos um dos seus pilotos vivos. Ou seja, ou apareces com sangue nas rodas e o cartão de plástico na mão, ou mais vale não apareceres de todo.

Tenho que confessar que o que mais me agradou e agarrou no livro foi também aquilo que mais me assustou. A capacidade que o ser humano tem para se deixar corromper pela maldade, a sua capacidade para aceitar o que é errado e transformá-lo em algo banal, são aspectos bastante assustadores e representados na personagem de Faulkner. Achei que o autor representou maravilhosamente o modo como Faulkner vai perdendo os seus princípios, como vai sedendo à pressão e passa a aceitar a morte de outro humano como algo aceitável e até inevitável. O modo como no final se acaba por desligar de tudo e todos e fazer o que é necessário para sair por cima. Foi assustador ver tanta desumanidade, tanto desrespeito pela vida num único livro. Neste caso não só na pessoa de Faulkner, mas na maioria daquelas que aparecem. A realidade é que as pessoas que vivem nesta situação já não sabem viver de outro modo e quando se deparam com uma saída não a conseguem agarrar.

Um livro que recomendo pelo modo como é capaz de mexer com as sensibilidades do leitor.

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